Marcel Broodthaers, stills do vídeo A Voyage on the North Sea, 1973-74.
Um trabalho híbrido entre livro e vídeo.
Indicação de leitura: Voyage on the North Sea: Art in the Age of Post-Medium Condition, de Rosalind Krauss. Sinopse aqui.
Trecho do capítulo Qu'est-ce qu'un livre d'artiste? (O que é um livro de artista?), que integra a publicação Esthétique du livre d'artiste (1997), de Anne Moeglin-Delcroix:
"Un voyage en mer du Nord (Uma viagem no mar do norte) é construído a partir de duas imagens: a fotografia de um veleiro contemporâneo no mar e a reprodução de um quadro representando um barco a velas do século passado. Primeiro motivo de assombro e o motivo de estranhamento, a imagem do barco “real” está em preto e branco, enquanto que o veleiro pintado é mostrado em cores, ganhando assim em realidade. Uma inversão análoga diz respeito ao movimento suposto das embarcações. As fotografias do barco moderno, aparentemente idênticas, abrem e fecham o livro, sobre uma dupla página que retorna ela também duas vezes à mesma imagem, sugerindo ao leitor que entre começo e fim ele não avançou e que nada aconteceu. Com um olhar atento, entretanto, alguns minúsculos indícios revelam que a embarcação mudou de lugar e que no fim ela se aproxima de uma costa. O veleiro imóvel, pois, em realidade progrediu.
O barco pintado, ao contrário, pela magia de um corte e de uma montagem de imagens de inspiração cinematográfica, dá a ilusão de avançar a toda vela. Por outro lado, fotografias de fragmentos do quadro isolam motivos secundários, tais como remadores em um barco, ondas e nuvens, ou fazem aparecer em grande plano os empastamentos coloridos da matéria pictórica. Assim nasce a idéia de que o pretenso Un voyage en mer du Nord é na realidade um circuito ao interior de um quadro, do tipo destes os quais uma conferência traçaria o itinerário visual, guiando o olhar com a ajuda do encadeamento das reproduções, esmiuçadas por algumas paradas sobre detalhes significativos. Esta “viagem da história da arte” faz assim descobrir em um quadro medíocre “silhuetas maneiristas de um barco a remo, sobre ondas a La Turner e sob céus impressionistas[1]”. A viagem não é a de um barco, seja moderno ou antigo, fotografado ou pintado, mas a viagem imóvel do olhar, lançado em aventuras inesperadas por um percurso do quadro cujo livro trama a lógica."
[1] Pat Gilmour, "Marcel Broodthaers", in Marcel Broodthaers. Books, Editions, Filmes, 1977.
Indicação de leitura: Voyage on the North Sea: Art in the Age of Post-Medium Condition, de Rosalind Krauss. Sinopse aqui.
Trecho do capítulo Qu'est-ce qu'un livre d'artiste? (O que é um livro de artista?), que integra a publicação Esthétique du livre d'artiste (1997), de Anne Moeglin-Delcroix:
"Un voyage en mer du Nord (Uma viagem no mar do norte) é construído a partir de duas imagens: a fotografia de um veleiro contemporâneo no mar e a reprodução de um quadro representando um barco a velas do século passado. Primeiro motivo de assombro e o motivo de estranhamento, a imagem do barco “real” está em preto e branco, enquanto que o veleiro pintado é mostrado em cores, ganhando assim em realidade. Uma inversão análoga diz respeito ao movimento suposto das embarcações. As fotografias do barco moderno, aparentemente idênticas, abrem e fecham o livro, sobre uma dupla página que retorna ela também duas vezes à mesma imagem, sugerindo ao leitor que entre começo e fim ele não avançou e que nada aconteceu. Com um olhar atento, entretanto, alguns minúsculos indícios revelam que a embarcação mudou de lugar e que no fim ela se aproxima de uma costa. O veleiro imóvel, pois, em realidade progrediu.
O barco pintado, ao contrário, pela magia de um corte e de uma montagem de imagens de inspiração cinematográfica, dá a ilusão de avançar a toda vela. Por outro lado, fotografias de fragmentos do quadro isolam motivos secundários, tais como remadores em um barco, ondas e nuvens, ou fazem aparecer em grande plano os empastamentos coloridos da matéria pictórica. Assim nasce a idéia de que o pretenso Un voyage en mer du Nord é na realidade um circuito ao interior de um quadro, do tipo destes os quais uma conferência traçaria o itinerário visual, guiando o olhar com a ajuda do encadeamento das reproduções, esmiuçadas por algumas paradas sobre detalhes significativos. Esta “viagem da história da arte” faz assim descobrir em um quadro medíocre “silhuetas maneiristas de um barco a remo, sobre ondas a La Turner e sob céus impressionistas[1]”. A viagem não é a de um barco, seja moderno ou antigo, fotografado ou pintado, mas a viagem imóvel do olhar, lançado em aventuras inesperadas por um percurso do quadro cujo livro trama a lógica."
[1] Pat Gilmour, "Marcel Broodthaers", in Marcel Broodthaers. Books, Editions, Filmes, 1977.
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