sábado, 30 de julho de 2011

Além da Biblioteca :: exposição no Museu Lasar Segall, em São Paulo


A exposição Além da Biblioteca reúne obras que encontram sua configuração ideal no livro, evidenciando dois aspectos deste objeto: sua forma e seu conteúdo funcional.

Os trabalhos apresentados levantam especificidades formais do livro, que não deve ser visto como mero objeto, e sim como uma sequência de espaços, na definição de Ulises Carrión. As obras aqui expostas exploram a espacialidade do livro com a naturalidade de quem pertence ao universo criado por esse objeto, que é ao mesmo tempo mundano e enigmático.

Ao mesmo tempo que suporte e forma, o livro está presente nessas obras também com suas diferentes funções dentro do nosso cotidiano, afinal, este é o objeto usado pelas idéias como meio e veículo. Além da Biblioteca apresenta o atlas geográfico, o álbum de figurinhas, o dicionário, a enciclopédia, o romance, o caderno de desenho, o caderno de partitura, o livro de poesia, o flip-chart, e por aí vai.

Ao lançar um olhar sobre obras de arte que são livros, Além da Biblioteca disponibiliza ao público um recorte significativo da produção de arte contemporânea, respeitando as necessidades expositivas peculiares do livro de artista.

Ana Luiza Fonseca
Curadora

Artistas participantes
Ana Luiza Dias Batista
Coletivo Zine Parasita
Daniel Escobar
Edith Derdyk
Fabio Morais
Jorge Macchi
Lucia Mindlin Loeb
Marcius Galan
Marilá Dardot
Nicolás Páris
Odires Mlászho
Fabio Morais, Da série Oceanos (Indigo), 2006

Marilá Dardot, Cúmulus, 2008

Edith Derdyk, Fresta: livro-partitura, 2004

Odires Mlászho, Livro cego, 2010


Serviço
Museu Lasar Segall Rua Berta, 111. São Paulo, SP
Abertura: 30 de julho, sábado, 17 horas
Visitação: de 30 de julho a 23 de outubro de 2011. De terça a sábado e feriados das 14 às 19h; domingos das 14 às 18h

domingo, 22 de maio de 2011

O um e os muitos :: exposição de Guita Soifer em Curitiba

A exposição 'O um e os muitos', da artista Guita Soifer, acontece na Casa Andrade Muricy até 3 de julho, em Curitiba. A mostra reúne obras em gravura, pintura e fotografia. Entre as peças, há livros de artista dispostos em longas mesas.

Serviço
Exposição: GUITA SOIFER | O um e os muitos
Curadoria: Marco Silveira Mello
Visitação: até 3 de julho de 2011
Local: Casa Andrade Muricy. Alameda Dr. Muricy, 915. Centro, Curitiba
Horário de visitação: de terça a sexta-feira, das 10h às 19h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h
Entrada gratuita
Agendamento para visitas mediadas:(41) 3321 4816 | Setor Educativo da CAM
Informações: (41)3321-4798; www.cam.cultura.pr.gov.br; cmuricy@seec.pr.gov.br


Guita Soifer :: O um e os muitos

Nesta mostra estão trabalhos de Guita Soifer de diferentes momentos. Mas não é uma exposição retrospectiva. O esforço é de outra monta. Trata-se de objetivar um modo dessa poética expressar os termos de seu próprio território. Sempre me pareceu que Guita Soifer encontrara na gravura o meio mais propício para suas realizações. Aqui coube rever alguns diagnósticos. É um equívoco pensar que as razões desse fato advêm de uma ordem de especialização. Antes essa ocorrência se efetua em razão de que o imperativo de suas ações manifesta estreitas afinidades com a estrutura dessa forma de linguagem. A gravura é um ofício associado à multiplicação e as ações da artista buscam insaciavelmente, obsessivamente, a multiplicidade.

Mas, se a sua obsessão pela abundância estende uma correspondência entre suas ações e a “forma” da gravura, também é responsável por promover distanciamentos. É justamente por ter em vista a variedade que Guita se desapega da multiplicação que a gravura proporciona. A gravura perpetra vários do que é um e Guita faz preponderantemente monotipias. Faz da gravura um somente, mas que se abre em séries extensas, dando a ver que poderiam ser quase incontáveis.

A compulsão pela ordem dos muitos igualmente açoda capacidades expansivas, levando que a artista extrapole os limites desse campo, em princípio mais favorável, e se arrisque em diferentes territórios da linguagem. Enfim, é por perseguir a pluralidade que ela igualmente se dispõe à pintura, à fotografia e aos livros de arte.

Nos quadros dessa superfície extensiva, que reclama vários, a poética vai pulular de lá para cá e daqui para ali, agenciando obras em distintas linguagens. Não é de estranhar que os entes de distintos territórios encontrem disposições e até feições em comum. Afinal, desenvolvimentos promovidos em dado continente avançam em outro para mais tarde regressarem desdobrados, prontos a novos exercícios, aptos a realização de novas séries de variações.

Contudo, a obra de Guita Soifer não é movida unicamente por impulsos expansivos: a esses humores, convivem poderosas travas. Se as ações se lançam à frente ambicionando a variedade, elas se mostram sempre agarradas a um ambiente nuclear. Tudo ocorre como se os seus esforços nunca se desprendessem da gravidade do um. Como se a falta dessa presença tolhesse todo o sentido da ação. É por essa razão que as obras buscam orbitar séries, que a gravura apronta uma espacialidade capaz de causar um centro, que a pintura organiza uma miríade de pinceladas tendendo ao retraimento e que a pujante variedade ocorrida em seus livros se faça no interior de uma forma cuja natureza é o recolhimento.

O um e os muitos são os dois termos que esquadrinham o espaço poético de Guita Soifer. Quando um se encontra junto ao outro em uma mesma obra não é de forma alguma um abrandamento da disposição e sim a realização de um paradoxo. Nunca é demais dizer: não existe arte sem vergar a língua ao paradoxo.
Marco Silveira Mello

Fonte: Casa Andrade Muricy
Veja mais sobre os trabalhos de Guita Soifer em seu site.


quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Exposição do Grupo Rosa dos Ventos








A exposição “+papel”, coletiva das artistas do Grupo Rosa dos Ventos (UDESC/CNPq), apresenta uma reflexão acerca da materialidade do papel como veículo poético. Buscando dar forma a memórias e relações com esse material, as artistas exploram desde as mais íntimas e delicadas lembranças até relações com o outro e com a paisagem.

Algumas artistas exploram a materialidade do papel dobrando-o, empilhando-o e montando jogos por meio do recorte de letras. Por intermédio desses arranjos, criam mundos imaginários em mini-instalações, celebram os encontros, usam a metáfora do empilhamento como forma de compreender o adensamento de memórias causado pela passagem do tempo, e ainda remetem-nos a experiências lúdicas envolvendo o papel. A ideia de perda e recuperação da memória também está implícita na tentativa de fixar uma imagem em papel por intermédio do ato fotográfico. Alguns trabalhos evocam relações com a paisagem, como as gravuras em papel que são apresentadas junto a conchas coletadas num passeio pela praia.

Juliana Crispe convidou a amiga Bruna Mansani para brincar. “Um mundo de papel para Alice” mostra a personagem, pequena boneca de pano, de 1,5 cm, que dá nome à série iniciada em 2007, interagindo com pequenos animais, objetos em origami, produzidos por Bruna, na proporção da personagem. É a primeira vez que Alice, antes protegida por fotografias, aparece em cena.

Juliana Crispe, Um mundo de papel para Alice, 2009-2011
Instalação, origamis e Alice


O lúdico e o encontro se manifestam também nos trabalhos de Maria Araujo e de Rosana Bortolin. A partir de saquinhos de chá saboreados em um encontro entre amigas, Maria Araujo se lança ao jogo da conversa, da oferenda, do pottlach, devolvendo os restos do ritual, os saquinhos já utilizados, com marcas do uso e tingimento com pigmentos naturais e industrializados.

Maria Araujo, Casal, 2010
saquinhos de chá tingidos


“Papel de papel I e II”, de Rosana Bortolin, propõem uma alusão aos contatos lúdicos feitos com papel durante a remota infância. Recorte de letras, formação de palavras, empilhamento de papéis, criação de volumes. Folhas empilhadas, letras recortadas que unidas e ordenadas formam a palavra papel. O negativo do recorte e o positivo do recortado ao complementarem-se formam uma folha inteira. Segundo a artista, “é uma metalinguagem que define o conceito do objeto por meio do material do qual ele é feito”. O visitante poderá retirar esses recortes e levar consigo para montar e remontar.

Rosana Bortolin, Papel de papel I, Papel de papel II, 2009-2011
pilhas de letras de papel formando a palavra papel

“Sementeira”, obra de Sandra Correia Favero, segue outra linha. Considerando as inúmeras possibilidades de reprodução de imagens, a artista expõe a disseminação da estampa resultante de um processo secular sujeito ao abandono dentro de uma caixa forrada com conchas e caramujos. Sandra explica: “porque vivo em Sambaqui, sei o quanto estamos tentados a levar para casa essas pequenas “lembranças”. Sei o valor afetivo que elas incitam. As estampas estão colocadas ali como oferenda ao público e como estímulo a multiplicação do ato de gravar.”

Sandra Correia Favero, Sementeira, 2005
instalação com caixa de vidro, conchas e caramujos, cascas de ostras e mariscos,
estampas impressas a partir de matriz xilográfica


A memória é tema ainda dos trabalhos de Márcia Sousa e Marina Moros. “palimpsesto 1 [Helena]”, de Márcia Sousa, incita o espectador ao tato, à experiência do empilhamento de memórias e à sua recriação, originada no próprio gesto de empilhar. Um palimpsesto é uma página manuscrita, pergaminho ou livro cujo conteúdo foi apagado (mediante lavagem ou raspagem) e reescrito, normalmente nas linhas intermediárias ao primeiro texto ou em sentido transversal. Como num palimpsesto, a memória reescreve constantemente os fatos vividos. Camadas de espaços-tempo que se interpenetram e se transformam mutuamente. Por entre as linhas dessa escrita sempre transformada, é possível entrever as camadas inferiores, indícios do vivido. O trabalho de Márcia presentifica essa sobreposição, esse adensamento de memórias. O ato de empilhar reafirma a ideia de acúmulo e de entrelaçamento entre camadas. A transparência dos papéis permite a contaminação entre palavras, entre lembranças, entre tempos, entre espaços. Sob a escrita revelam-se outras escritas. O visitante poderá mover as folhas para desvendar o trabalho e experimentar a sensação de adensamento provocada pela ação de empilhar.

Márcia Sousa, palimpsesto 1 [Helena], 2009-2011
papéis transparentes empilhados, escrita em nanquim

Marina Moros joga com a etimologia das palavras “retrato” e “res”, para discutir, na obra “[restraho]”, o intervalo em que a imagem vira tangência nas armadilhas criadas pela fotografia pixográfica, onde a latência é substituída por jatos.

Marina Moros, [restraho], 2009-2011
fotografia, adesivo em vinil sobre parede, texto

Em “ser (des)contínuo”, Silvia Carvalho mostra uma série de quinze desenhos-pinturas feitos com bastões oleosos e tinta de terra sobre papel. São figuras femininas criadas a partir de leitura do livro "O Erotismo" de Georges Bataille.

Silvia Carvalho, ser (des)contínuo, 2009
desenhos sobre papel, instalados em sequência

A exposição “+papel”, do Grupo Rosa dos Ventos, pode ser visitada até o dia 6 de fevereiro.


Serviço

Exposição “+papel”

Museu Histórico de Santa Catarina, Palácio Cruz e Sousa
Praça XV de Novembro, 227. Centro. Florianópolis, SC.
Tel: (48) 3028.8091; e-mail: mhsc@fcc.sc.gov.br;
www.mhsc.sc.gov.br
Visitação: 14 de janeiro a 6 de fevereiro de 2011; terça a sexta-feira, 10 às 18h; sábado e domingo, 10 às 16h.