sábado, 19 de abril de 2008

O companheiro azul

Um caderno para Gleyce, sob medida:
Meu tão querido e companheiro... caderno azul.



Para Gleyce
Curitiba, 30 de maio de 1999.

Quero sorrir de novo poesia.
Quero cheirar a patchouli ou a lavanda só para ser mais poesia.
Quero ver mãos leves que passeiam como se flutuassem.
Quero ouvir a voz doce que chama o irresistível sono de profundezas.
Quero a paz das tardes de domingo.
Quero a conversa serena, os recados escritos, o entusiasmo da descoberta.
Quero comer margaridas só para ser mais poesia.
Quero andar sobre as ondas rendadas de um eterno mar.
Quero a quietude debaixo da árvore e a sutileza do ar veloz se enroscando no pescoço.
Quero ver as praias do sem fim.
Quero me pintar de azul só para ser mais poesia.
Quero caminhar sob as sombras perfumadas do jardim das coníferas.
Quero sorver o ar dos sonhos que às vezes rolam pelo chão para tornarem-se estrelas de um céu recém-nascido.
Quero balançar nos galhos da laranjeira só para ser mais poesia.
Quero abrir as comportas e fluir...
Márcia Sousa

Uma história da sombra e um caderno escondido

Em 19 de abril de 2008, Gleyce escreveu:
Esta semana fazendo faxina nas minhas estantes... eis que lá estava há muito escondida... uma caixinha sua, com um belo caderno dentro! Quantas lembranças minha irmã... e então fiz estas fotos para você.





O primeiro sabor do qual se recorda foi uma cenoura.
O primeiro cheiro, um limão partido ao meio.
Recorda que chorou quando descobriu a distância.
E recorda que certa manhã ocorreu o descobrimento da sombra...

Gleyce é minha amiga-irmã. Onze anos de levezas e delicadezas, alternadas com lutas profundas e importantes. Mora em Curitiba. Gosta de flores amarelas, tem um gato malhado chamado Tux e desenha como ninguém. Gleyce me emociona, sempre me emocionou. Com seus gestos delicados, com suas mãos leves de desenhar-gravar-pintar...
Márcia Sousa