segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Estandartes de Artur Bispo do Rosário




"Serão livros os estandartes de Bispo? Folheamos os livros-estandartes como se caminhássemos por mapas narrativos, colinas de histórias, mar de signos e palavras. Folheamos arquiteturas e geografias e cartas náuticas e territórios. Folheamos esses livros-espaço como se ouvíssemos histórias narradas, descrições orais de lugares . Como relatos, os estandartes de Bispo “[...] atravessam e organizam lugares; eles os selecionam e os reúnem num só conjunto; deles fazem frases e itinerários. São percursos de espaços.”[1] Permitem que mantenhamo-nos em intenso trânsito, compartilhando com o artista seu desejo de registrar os itinerários do mundo. Seriam diários de marcha? Inventários de tudo que foi visto, como uma compulsão pelo registro.

As histórias narradas em um dos estandartes, seriam as mesmas histórias afixadas em outro? Ou seriam desdobramentos de uma única história? A história do mundo: “Quando eu subir, os céus se abrirão e vai recomeçar a contagem do mundo. Vou nessa nave, com esse manto e essas miniaturas que representam a existência. Vou me apresentar.”[2] Como numa preparação para o Juízo Final.

Como num virar de páginas, observar esses estandartes-livros tem uma dimensão temporal pungente e definitiva: o todo é feito de partições-páginas que demandam tempo de percurso. Colocados no espaço, pendurados, instalados, lado a lado ou em seqüência, reafirmam sua temporalidade e fisicalidade, e revelam no observador-leitor seu tempo, seu espaço e seu corpo."

Notas
[1] Michel de Certeau, A invenção do cotidiano, 1994, p. 199.
[2] Luciana Hidalgo, Arthur Bispo do Rosário: o senhor do labirinto, 1996, p. 185.


Márcia Sousa, trecho de artigo.

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